Evidências científicas sobre como melhorar a retenção de informações

Evidências científicas sobre como melhorar a retenção de informações

21 de agosto de 2022 Professores 0

A seguir encontre links selecionados por nossos especialistas em memória que propõem várias formas de melhorar a retenção de informações, todas embasadas em evidências científicas.

Isso pode ser simples de fazer.

Sabemos que professores e alunos são muito sobrecarregados e que é muito difícil mudar hábitos.

Por isso, é importante que saibam que é possível aumentar a retenção de informações:

  • com mínimas alterações no jeito de lecionar e/ou estudar;
  • sem incorrer em custos, tampouco tempo adicional em aulas/estudo;
  • sem precisar alterar o material didático.

Parece bom demais para ser verdade?

O que os cientistas mostram é que quem quer ensinar e/ou aprender conteúdo tem que estimular ou praticar a “procura de informações na mente”, o que é chamado em linguagem científica de “prática de lembrar” (retrieval practice ou the testing effect).

Nossa equipe tem chamado isso de ensinar/estudar “para fora”.

O que, então, vem a ser esse estudar/ensinar “para fora”?

Aprender “para fora” nada mais é do que colocar conhecimentos em prática, resolvendo exercícios, discutindo com colegas, tentando explicar (oralmente, ou por escrito) o que sabemos etc. Ou seja, quer dizer pensar sobre a matéria. De qualquer forma esse pensar ajuda na aprendizagem.

Isso contrasta fortemente com a forma tradicional de ensinar ou aprender, que foca em colocar informações “para dentro” da mente dos alunos: dando aulas ou as assistindo passivamente, relendo o caderno, livro ou apostila.

Os especialistas neste campo mostram há tempos que estudar “para dentro” não leva a uma retenção duradora de informações. A gente não “aprende” para valer e logo esquece.

Por exemplo: é comum que alunos que até foram bem numa prova não consigam lembrar de (quase) nada pouco tempo depois…

Porém, se estudarem de uma forma adequada fixarão melhor a matéria na cabeça.

Estudar “para fora”, ou seja, pensar sobre a matéria e não ficar so relendo as anotações, por exemplo, exige mais esforço.

Mas como estudar assim leva a uma maior retenção, acaba por reduzir o tempo perdido estudando de forma ineficiente.

Isso é essencial para adolescentes, pois muitos deles têm pouco tempo para descansar.

Em parte isso tem a ver com atividades escolares ou extracurriculares, muito tempo perdido no trânsito…

E em parte tem a ver com a desorganização dos jovens: deixam para estudar na última hora, gastam tempo excessivo usando mídias, etc. Professores e pais podem ajudar, ensinando as formas mais eficientes de estudar.

Mas lembre-se: adolescentes não têm habilidades de planejamento e organização desenvolvidas ainda, portanto estudam e usam seu tempo de forma inadequada.

Se os professores conseguirem ensiná-los a como estudar de forma mais eficiente, eles serão beneficiados por toda a vida!

E tem mais: além de ter que aprender como estudar direito para aprender melhor, adolescentes precisam ter tempo para dormir bastante. E para poder dormir, eles têm que poder relaxar.

Dormir e relaxar são também essenciais para ter um humor estável, para manter a atenção e para que seus cérebros guardem informações e se desenvolvam adequadamente.

Prática de lembrar espaçada (repetida ao longo do tempo)

Ter ao menos uma oportunidade de fazer uma atividade que nos faça pensar sobre a matéria ajuda em sua retenção.

Para aumentar a aprendizagem mais ainda, é preciso repetir isso ao longo do tempo, o que se chama “prática de lembrar espaçada”.

Ou seja, é bom fornecer atividades que permitem retomar a matéria dada algum tempo antes, como exercícios que incluam o uso de conceitos da matéria que está sendo dada agora junto com outras que já foram ministradas.

Parece complicado, mas não é. Por exemplo, um professor de História pode estar dando a matéria sobre uma revolução e perguntar o que essa revolução tem em comum com outra de um período histórico anterior, discutida antes.

O mesmo vale, para dar outro exemplo, para Biologia: “qual as semelhanças e diferenças das características entre um determinado filo que está sendo apresentado aos alunos e outro dado no começo do ano?”. Isso faz com que os alunos tenham que pensar sobre (relembrar, ou tirar da cabeça) o que lembram sobre o conteúdo dado antes e o dado agora. Ao fazer isso, constroem em suas mentes relações entre os conhecimentos, o que reforça a aprendizagem.

Provas cumulativas são formas de fazer com que os alunos revisitem toda a matéria dada até então quando estudam, o que é uma forma de estimular que estudem os conteúdos espaçadamente, espalhados ao longo do ano. Mas isso só vale mesmo se forem estimuladas a refletir sobre as relações entre conteúdos, com exercícios, por exemplo, que façam com que tracem paralelos e procurarem diferenças entre os conteúdos.

Uma prova que solicite esse tipo de junção de conhecimentos apresentados ao longo do ano transforma provas em oportunidades ótimas de aprendizagem! Assim, ao invés do dia da prova ser uma mera forma de avaliar o que os alunos sabem, elas podem servir para que os alunos “pratiquem lembrar”. Ou seja, provas são excelentes formas de promover a aprendizagem se de fato fizerem os alunos pensar sobre a matéria.

Os alunos reclamam, claro… detestam provas cumulativas. Dá muito trabalho a eles.

Mas ganho de conhecimento é assim, todo integrado mesmo, e não compartimentalizado nos conteúdos que são dados entre provas.

Idealmente, questões multidisciplinares são formas ainda melhor de promover um aprendizado duradouro, pois estimulam a integração de mais conhecimento ainda! Talvez por esse motivo está se tornando tão comum que esse tipo de questão apareça no Exame Nacional do Ensino Médio: esses são os tipos de questão que melhor avaliam o que alunos sabem e sua capacidade de usar os conteúdos em contextos diferentes. Isso, afinal, é o objetivo da educação.

Há hoje aplicativos gratuitos excelentes para ajudar a colocar a prática de lembrar, espaçada no tempo, em prática.

O poder do “feedback”

Existe um outro fator que aumenta muito a aprendizagem: dar respostas (feedback) sobre o que os alunos acertaram e erraram toda vez que fazem atividades, exercícios e provas.

Muitos estudos mostram que o feedback é um dos principais fatores em promover um bom aprendizado, pois permite que alunos corrijam conceitos errados e entendem porque erraram.

Contudo, muitos professores acham que isso não é importante ou impossível de fazer por falta de tempo.

Porém, notem que até mesmo um feedback coletivo, verbal, pode funcionar.

Por exemplo, após uma prova o professor pode comentar cada questão, o que esperava como resposta, os tipos de erros que os alunos comentaram e porque eles estavam incorretos. Isso também vale para exercícios e outras atividades.

Isso não é perda de tempo! Sem isso, como um aluno pode perceber o que não entendeu direito e procurar aprender a coisa certa?

Alguns materiais adicionais

Veja aqui um vídeo (longo…) sobre como funciona esse “ensinar/estudar para fora”, com muitas dicas simples sobre como estudar de forma mais eficiente.

Se quiser algo mais curto, veja esse vídeo.

Fazemos um especial destaque para esse Guia prático de “ensinar para fora” para professores, adaptados por nossa equipe de especialistas para o português.

Ele foi desenvolvido pelos cientistas mais renomados no mundo no assunto. Veja mais sobre isso aqui (conteúdo em inglês), ou aqui (notícia).

Caso tenha se interessado por esse post, saiba que há um canal do Youtube, em inglês, que inclui palestras dos melhores especialistas no mundo sobre como melhorar a memória das pessoas: https://www.youtube.com/channel/UCUSGmXVmLQnWEdLZRyRUb4g

Referências bibliográficas

Carpenter, S. K., Pan, S. C., & Butler, A. C. (2022). The science of effective learning with spacing and retrieval practice. Nature Reviews Psychology1(9), 496-511. https://www.nature.com/articles/s44159-022-00089-1

Ekuni, R., & Pompeia, S. (2020). PRÁTICA DE LEMBRAR: A QUAIS FATORES OS EDUCADORES DEVEM SE ATENTAR?. Psicologia Escolar e Educacional24.

Ekuni, R., de Souza, B. M. N., Agarwal, P. K., & Pompeia, S. (2022). A conceptual replication of survey research on study strategies in a diverse, non-WEIRD student population. Scholarship of Teaching and Learning in Psychology8(1), 1. https://www.researchgate.net/publication/340707347_A_conceptual_replication_of_survey_research_on_study_strategies_in_a_diverse_non-WEIRD_student_population

Wisniewski, B., Zierer, K., & Hattie, J. (2020). The power of feedback revisited: A meta-analysis of educational feedback research. Frontiers in Psychology10, 3087.

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