Comportamentos antissociais

Comportamentos antissociais

30 de novembro de 2022 Professores 0

Outra questão importante: um adolescente com comportamentos “delinquentes” não necessariamente indica uma falha de caráter e/ou que se tornará um adulto mal ajustado.

Estudos mostram há décadas que, embora comportamentos antissociais aumentem drasticamente (em 10 vezes) entre cerca de 10 e 18 anos de idade, somente um em cada 10 adolescentes com comportamentos antissociais ou criminosos continuam a tê-los na idade adulta (Moffit, 2017).

Este crescimento abrupto de comportamentos antissociais ocorre em paralelo com a ocorrência da puberdade, que é frequentemente associada a um aumento de agressividade, verificada em alguns adolescentes de ambos os sexos.

Em parte, isso tem sido associado ao rápido aumento na produção dos hormônios  sexuais, juntamente com as dificuldades de manejar emoções devido à imaturidade de estruturas pré-frontais do cérebro.

Considerar a influência de aumento de concentrações hormonais nessa fase da vida é importante. Por exemplo, a testosterona é um hormônio presente em todas as pessoas, em todas as idades e suas concentrações são elevadas em situações de competição, o que indica ao cérebro a necessidade de preparo comportamental para enfrentar essas condições.

Acontece que, no início da puberdade, nos meninos em especial, as concentrações de testosterona aumentam súbita e radicalmente, pois esse é o principal hormônio que provoca o desenvolvimento de vários caracteres sexuais secundários masculinos.

Assim, durante esse período de transição, essas altas concentrações de testosterona podem induzir comportamentos persistentes de resposta competitiva/agressiva, territorial, regida pela resposta cerebral a essas altas taxas hormonais.

Isso tende a reduzir tão logo o cérebro ajuste suas respostas de acordo com variações hormonais em torno das novas concentrações elevadas de testosterona presente no fim da puberdade, semelhante às de adultos. Isso acontece também nas meninas, mas em nível menor.

Ou seja, adolescentes considerados realmente problemáticos precisam de uma atenção especial, pois seus comportamentos são em grande parte passageiros.

Assim, é totalmente inadequado considerar a redução da maioridade penal e o encarceramento de adolescentes que quebram a lei, pois seus atos nessa idade têm a ver com sua fase de desenvolvimento cerebral, hormonal e sua falta de experiência.

Além do mais, não há evidências que prender jovens reduza crimes.

Ao contrário! Punições severas, encarceramento, etc., só tendem a piorar seus comportamentos.

Mais ainda, isso vai contra as garantias fundamentais de crianças e adolescentes, previstas na Constituição (Estatuto da Criança e do Adolescente ), que considera adolescentes pessoas em fase de desenvolvimento que devem ser protegidas enquanto tal.

Contudo, na prática, jovens a partir de 12 anos podem sofrer esses tipos de punição em nosso país, o que é lamentável.

No Brasil, isso é mais grave ao se considerar jovens de baixo nível socioeconômico, particularmente rapazes negros, que têm poucas oportunidades de conseguir emprego, frequentemente deixam a escola e podem ter pouco apoio familiar. Eles sofrem de violência descomunal em nossa sociedade (de cada 100 pessoas que sofrem homicídio no Brasil, 71 são negras, em sua maioria rapazes jovens). 

Ações positivas, embasadas em conhecimentos em psicologia e que aumentam o senso de pertencimento, tendem a ter melhores resultados na grande maioria dos casos. Ou seja, ações pró-sociais e/ou trabalhos voluntários, que abrem ao invés de fechar portas para eles.

Exemplos são trabalhos voluntários e em prol da sociedade,  treinamento que forneça chances de conseguirem emprego, políticas de prevenção de evasão escolar, entre outros. Apoio familiar é muito importante na redução desse tipo de vulnerabilidade.

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Referências bibliográficas

Jensen, F. E., & Nutt, A. E. (2016). O cérebro adolescente: guia de sobrevivência para criar adolescentes e jovens adultos. Editora Intrinseca.

Moffitt, T. E. (2017). A review of research on the taxonomy of life-course persistent versus adolescence-limited antisocial behavior. In Taking stock (pp. 277-311). Routledge.

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