Dificuldades de aprendizagem na adolescência

Dificuldades de aprendizagem na adolescência

19 de abril de 2022 Professores 0

Relação da puberdade com a aprendizagem

Na primeira metade da adolescência, quando ocorre a puberdade, a idade cronológica não indica necessariamente a maturidade cognitiva e comportamental. O estágio da puberdade também impacta no comportamento e na capacidade de aprender.

Alunos que maturam antes, em geral, podem ter mais facilidade com o conteúdo acadêmico, provavelmente associada à maior maturidade cerebral. Além disso, estudantes meses mais velhos que seus colegas de mesma classe também tendem a ter melhor desempenho na escola.

Portanto, a combinação de menor idade (mesmo que em meses) e um desenvolvimento puberal mais tardio comparado ao dos colegas podem ter dificuldades escolares. Essas dificuldades tendem a ser superadas com o passar do tempo. Contudo, ter dificuldades na escola em alguma época da vida pode dificultar muito que um aluno consiga se recuperar mais tarde em termos escolares, pois terá perdido a oportunidade de aprender conceitos necessários para compreender as matérias seguintes.

Assim, esses adolescentes mais jovens e imaturos fisiologicamente merecem uma atenção especial dos professores para que não fiquem para trás, em especial porque tenderão a ser socialmente menos aceitos por sua aparência e comportamento imaturos, resultando em problemas sociais que pode diminuir seu desempenho acadêmico ainda mais.

Isso não é raro de acontecer no começo da adolescência. Relembrando: o início da puberdade, isto é, o aparecimento dos primeiros sinais da puberdade, é considerado normal em meninas se ocorrer entre 8 e 13 anos e nos meninos, entre 9 e 14 anos. Em geral, quase todas as meninas terminaram a puberdade em torno dos 15 anos. No caso dos meninos, isso ocorre por volta dos 16 anos. Porém, o curso da puberdade, do começo ao fim, pode ocorrer entre 1,5 a 6 anos e tudo isso varia muito de adolescente para adolescente, o que é normal.

No outro extremo, adolescentes mais velhos e/ou com um desenvolvimento puberal mais avançado também terão comportamentos distintos dos de seus colegas de classe. Por exemplo, podem ser mais irritados e perder mais o controle emocional ou apresentar mais sinais de depressão (em especial meninas). Podem, ainda, apresentar uma vulnerabilidade causada por sua tendência de se associar a adolescentes mais velhos sem que ainda tenham a maturidade para lidar com possíveis atividades por eles realizadas (ex. consumo de álcool).

Parte do melhor desempenho acadêmico de jovens mais maduros sexualmente do que seus pares de mesma idade têm a ver com habilidades cognitivas associadas potencialmente a um cérebro mais maduro (melhor foco, autorregulação, etc., como explicado a seguir). Mas não se pode esquecer que a imaturidade cerebral também tem impactos psicossociais (ex. regulação emocional e de impulsos, comportamentos sociais, etc.) que podem ser trabalhados na escola e também são discutidos abaixo.

Além disso, deve-se considerar outros aspectos ligados à puberdade que envolvem aumento de vulnerabilidade  de adolescentes, incluindo dificuldades de foco, organização a sonolência.

Referências bibliográficas

Fernandes, E. C. (2015). Saúde do adolescente e do jovem: crescimento e desenvolvimento físico, desenvolvimento psicossocial, imunizações e violência. Recife : Ed. Universitária da UFPE, 58 p. ISBN: 978-85-415-0858-2. Disponível em https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/9260

Peña, P. A. (2017). Creating winners and losers: Date of birth, relative age in school, and outcomes in childhood and adulthood. Economics of Education Review56, 152-176. Doi: 10.1016/j.econedurev.2016.12.001

Torvik, F. A., Flatø, M., McAdams, T. A., Colman, I., Silventoinen, K., & Stoltenberg, C. (2021). Early Puberty Is Associated With Higher Academic Achievement in Boys and Girls and Partially Explains Academic Sex Differences. Journal of Adolescent Health69(3), 503-510.


Falta de atenção e organização

Os adolescentes têm notória dificuldade em se organizar e planejar. Quanto à sua capacidade de prestar atenção… A maioria dos adultos não consegue entender por quê, já que adolescentes podem aprender conteúdos complexos na escola e ainda assim não conseguem realizar outras tarefas aparentemente simples, como: deixar os pertences em lugares onde possam ser encontrados facilmente; arrumar seus quartos; deixar seu material escolar pronto para o dia seguinte… Isso pode levar à crença, por parte dos adultos, de que os adolescentes estão de má vontade e/ou até querendo irritar seus responsáveis e professores.

Este padrão é mais fácil de entender se for considerado que diferentes habilidades cognitivas são regidas por diferentes sistemas cerebrais, alguns dos quais amadurecem mais cedo que outros. As estruturas pré-frontais do cérebro , responsáveis pela organização/planejamento, capacidade de focar, são ainda muito imaturas nessa idade, em especial quando há outras atividades mais prazerosas no outro lada da balança.

Diferentemente, as habilidades de aprender conteúdo escolar, apropriado para cada idade, funcionam perfeitamente bem, pois outras regiões cerebrais, já mais maduras para isso, estão envolvidas.

Os sistemas que envolvem estruturas pré-frontais do cérebro também são responsáveis por comportamentos como iniciar e perseverar quando somos confrontados com tarefas difíceis ou entediantes (veja mais sobre tipos de impulsividade), controlar atenção, frustrações, emoções e impulsos, que também afetam desempenho na escola.

Considere, por exemplo, as consequências negativas de mau gerenciamento de tempo, como deixar para estudar na véspera da prova, não conseguir se organizar para dormir o suficiente durante a semana, ou enfrentamento com adultos e colegas de forma considerada socialmente inadequada.

Dificuldades acadêmicas nesses cenários ocorrerão mesmo para alunos adolescentes que estão bem desenvolvidos no que tange habilidades de aprender um assunto escolar complexo.

Assim, professores devem ajudar adolescentes a organizar seus horários, ensinar estratégias que os ajudem a se concentrar, bem como conscientizá-los de que há muitos fatores em suas vidas diárias que estão sob o controle deles. Se bem manejados, podem ser de tremenda ajuda, permitindo-lhes alcançar um melhor sucesso acadêmico, equilíbrio mental e físico.

Propor que alunos façam listas que se refiram a atividades que são corriqueiras (ex., em quais dias da semana estudar cada matéria) auxilia muito, pois exigem concentração e planejamento somente quando montam a lista. Daí por diante, os jovens podem simplesmente consultar a lista para lembrar o que devem fazer.

Sem isso, os adolescentes terão que decidir todos os dias o que farão. Acabarão fazendo muito pouco de algo, ou muito de outra coisa, ou nada até a última hora (procrastinação).

Organizar e planejar é muito difícil, mesmo para adultos. Imagine o quanto mais difícil seria se as áreas do cérebro envolvidas nisso ainda não estivessem totalmente maduras!

Referências bibliográficas

Duckworth, A. L., Gendler, T. S., & Gross, J. J. (2016). Situational strategies for self-control. Perspectives on Psychological Science11(1), 35-55. doi:10.1177/1745691615623247.

Putnam, A. L., Sungkhasettee, V. W., & Roediger III, H. L. (2016). Optimizing learning in college: tips from cognitive psychology. Perspectives on Psychological Science11(5), 652-660. Doi: 10.1177/1745691616645770

Ribeiro, S., Fernandes, V., Bezerra, N., Ekuni, R., Pegado, F., Torres, A. R., … & Weissheimer, J. (2020). Ideas for a school of the future. Neurotechnology: Methods, advances and applications, 247.

Links interessantes aprovados pela equipe Adole-sendo


Como ensinar de forma mais eficiente

Não é intuitivo para alunos como eles devem fazer para aprender a se concentrar e a estudar de forma eficiente. Isso deviria ser ensinado. Contudo, na escola, costuma-se ensinar só o conteúdo e não como estudar.

Para treinar atenção/concentração, o uso de abordagens como a técnica do Pomodoro parecem ser eficientes. Essa técnica envolve definir um tempo durante o qual cada aluno conseguirá estudar, de acordo com sua idade e dificuldade de concentração. Digamos que o período de estudo seja de 25 minutos (deve ser determinado de acordo com as características de cada estudante).

Ele(a) deve desligar todos os aparelhos, sons, TV, celular, e estudar nesse período, após o qual um alarme soa e ele(a) tem direito a 5 ou 10 minutos para fazer o que quiser. O procedimento é repetido e pausas maiores são oferecidas a cada três ou quatro repetições do procedimento, por exemplo.


Ressaltamos que os períodos de estudo e pausas devem ser ajustados para cada tipo de estudante (nível de dificuldade e/ou idade) e podem, posteriormente, ser aumentados. Mas não devem ser puladas as pausas. Essas pausas para o descanso são essenciais para um bom aprendizado.

Ainda, estudar pensando sobre o conteúdo funciona também muito melhor do que só reler anotações, capítulos de livro, apostila ou assistir passivamente a aulas ou vídeoaulas. Ou seja, atividades que envolvem responder perguntas, fazer exercícios, trabalhos, desenhar esquemas, fazer quizzes… Tudo isso são formas de estudar que garantem que informações acadêmicas sejam lembradas por mais tempo. Isso se chama prática de lembrar. Veja esse Guia gratuito sobre isso ou esse artigo , ou esse vídeo ou a wikipedia sobre o assunto.

É importante também estudar aos poucos (estudo espaçado) e não só na véspera da prova. Mais ainda, quando estudantes estudam por várias horas, é muito importante, além de períodos de descanso, que as matérias sejam alternadas (por exemplo, uma hora de matemática, uma hora de química, depois mais uma hora de matemática). Estas formas de estudar são muito mais eficientes em promover retenção duradoura de informações na memória. 

Dar exercícios ou afazeres toda semana, por exemplo, garante que os alunos pensem a respeito da matéria repetidamente e, portanto, praticarão lembrar espaçadamente, aumentando o aprendizado. Embora estudar de véspera possa funcionar em termos de tirar nota suficiente na prova, estudos mostram que as memórias formadas dessa forma não são tão duradouras quanto aquelas formadas após estudar de pouco em pouco, de forma espaçada.

Assim, os professores que dão muitas atividades ao longo do ano e são claros sobre o trabalho que esperam para a próxima aula, e/ou que impõem metas claras, geralmente têm mais sucesso em conseguir que os alunos aprendam. Nesses casos, os objetivos a serem alcançados são bem definidos e podem ser mais facilmente incorporados a um cronograma, sem exigir um planejamento complexo por parte dos jovens.

 Provas com conteúdo cumulativo também ajudam. Ou seja, provas que incluam todo o conteúdo dado até aquele momento em uma disciplina. Isso faz com que os alunos tenham que estudar toda a matéria dada antes várias vezes ao longo do ano. Isso não é popular entre alunos. Mas ajuda demais a reter conhecimentos.

Há muitas evidências científicas sobre todas essas dicas acima. Para saber mais sobre fatores que melhoram a aprendizagem, veja Ribeiro et al. (2020) e Putnam et al. (2016).

Sugerimos àqueles interessados em educação baseada em evidências que procurem acessar o site da Rede Nacional de Ciência para a Educação.

Referências bibliográficas

Cirillo, F. (2018). The Pomodoro Technique: The Acclaimed time-management system that has trasnformed how we work. Penguin Random House LLC, New York.  http://www.baomee.info/pdf/technique/1.pdf

Putnam, A. L., Sungkhasettee, V. W., & Roediger III, H. L. (2016). Optimizing learning in college: tips from cognitive psychology. Perspectives on Psychological Science11(5), 652-660. Doi: 10.1177/1745691616645770

Ribeiro, S., Fernandes, V., Bezerra, N., Ekuni, R., Pegado, F., Torres, A. R., … & Weissheimer, J. (2020). Ideas for a school of the future. Neurotechnology: Methods, advances and applications, 247.

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