Mudanças funcionais e estruturais
Não basta o corpo crescer para uma pessoa virar adulta. O comportamento delas também tem que mudar para que, um dia, elas se comportem como adultos.
Para que isso aconteça, as características do cérebro se alteram na adolescência, pois é o cérebro que é responsável pelos comportamentos. Parte dessas alterações cerebrais tem a ver com hormônios produzidos em maior quantidade durante a puberdade.
Para entender como o cérebro muda na adolescência é preciso explicar um pouco sobre como o cérebro funciona.
Então vamos lá.
No cérebro existem vários tipos de células, mas vamos focar em células chamadas neurônios. São os neurônios que registram o que acontece dentro e fora do corpo e regulam nossos pensamentos, o que sentimos e como agimos.
Os neurônios têm várias estruturas que parecem “braços” que fazem contato com outros neurônios. Isso permite a troca de informação entre eles e também com outros tipos de células em outras partes do corpo.
Esta comunicação entre neurônios é necessária porque o cérebro tem vários sistemas que são responsáveis por fazer coisas diferentes.
Por exemplo, para podermos responder uma pergunta, precisamos ver quem fez a pergunta, ouvir o que foi a pergunta, pensar na resposta e conseguir falar a resposta. Agora, imagine se as regiões do cérebro que permitem ver, ouvir, pensar e fazer os movimentos necessários para falar não se comunicassem. Isso não ia dar certo.
O cérebro consegue desempenhar seu papel de regular o que pensamos, sentimos e o que fazemos porque informações são trocadas entre neurônios, conectando sistemas diferentes do cérebro. Com as experiências que vivemos e as coisas que aprendemos, essa comunicação entre neurônios vai formando caminhos de conexão que vão ficando mais estáveis e mais complexos durante a infância.
E o que acontece na adolescência? Vamos descrever isso de forma simplificada.
No começo da adolescência, muitos pontos de conexão entre neurônios, chamados sinapses, são podados, bem rápido. Como assim, podados? É como se o cérebro fosse formado de árvores com galhos que se encontram mas que, nessa fase, perdem muitos galhos. O cérebro, então, fica mais “ralo” nessa idade.
Essa poda não é aleatória
São preservadas as conexões ou caminhos de troca de informações entre neurônios mais usados durante a infância. Isso permite que o cérebro funcione de forma mais eficiente, conserve energia e, o mais importante, esteja adaptado às experiências que as crianças tiveram até essa época.
Portanto, as crianças precisam ter uma dose certa de experiências e estimulação para que, depois da poda, sobrem mais destas conexões ou caminhos entre neurônios que podem ser úteis para sua vida futura.
CÉLULAS DA GLIA
Além da poda, ou faxina de sinapses, há outro fator que faz o cérebro ser eficiente, mas que ainda não está muito presente no cérebro no começo da adolescência. Esse fator é uma substância branca (mielina) que vai sendo produzida por outro tipo de célula do cérebro (células da Glia).
Essa substância branca funciona como um revestimento de parte dos braços dos neurônios, como revestimentos de fios elétricos. Isso faz as trocas de informações entre neurônios acontecerem mais rápido.
Mas a produção dessa substância branca só chega ao máximo em todas as regiões do cérebro lá pelos 25 anos… ou seja, as pessoas deixam de ser adolescentes, em termos de maturação do cérebro, só aos 25 anos…
Além disso, a produção de mielina reforça as conexões entre neurônios que são mais usadas nessa fase, permitindo moldar o cérebro à medida que experiências são vividas e coisas são aprendidas. Isso se chama plasticidade neuronal, que existe ao longo de toda a vida, mas é maior na adolescência do que na idade adulta.
Portanto, não é à toa que adolescentes têm um jeito próprio de agir, pensar, sentir e perceber as coisas do que adultos e crianças.
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Referências bibliográficas
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