Adolescer em quadrinhos

Adolescer em quadrinhos

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Imagens têm sido usadas como forma de comunicação desde os primórdios da humanidade, como as pinturas rupestres, encontradas nas cavernas, por exemplo.

A comunicação através das imagens é ainda mais eficiente quando envolve o humor e/ou promove a reflexão. Isso faz com que as pessoas fiquem mais dispostas e curiosas para entenderem melhor os assuntos e, inclusive, buscarem mais informações sobre a Ciência!

Pensando nisso, a equipe do Portal Adole-sendo promoveu em 2020 um concurso de representações gráficas sobre como estava sendo “adolescer’ durante a pandemia da Covid-19.

Foi neste concurso que veio à tona a Jovenilda.

Para ler todas as histórias em quadrinhos, acesse aqui.

Assista aqui ao vídeo de lançamento das histórias em quadrinhos, na escola onde surgiu a “turma da Jovenilda”, produzido por uma aluna do ensino médio.

Para saber mais sobre os comportamentos da adolescência nos gibis da turma da Jovenilda, e o que tem de Ciência nos quadrinhos, clique aqui.

QUEM É A JOVENILDA?

A Jovenilda é uma adolescente, está no nono ano do Ensino Fundamental. Adora estudar e sonha em ser jornalista! Também torce para o São Paulo Futebol Clube… gosta muito de lasanha, curte SLAM (que são competições de poesias faladas) e Hip Hop, e é negra!

Ela representa boa parte dos jovens brasileiros, e todos os traços da sua personalidade foram escolhidos em conjunto pelos próprios alunos que criaram as tirinhas!

Esta obra coletiva foi produzida pelo professor Marcos Roberto da Silva Moreira e seus estudantes da EMEF Joaquim Osório Duque Estrada, da zona Leste de São Paulo. Ela recebeu “avaliação de destaque” no concurso, por isso, tem apoio para ter continuidade. Agora, o desafio é explicar o que existe de Ciência sobre adolescência e seus inúmeros temas, por meio de suas histórias!

Quadrinista, Marcos é professor da rede pública de São Paulo há mais de 20 anos e, além de ensinar Língua Portuguesa, também cria histórias em quadrinhos através de oficinas com seus alunos.

As primeiras tirinhas produzidas pelos estudantes estão aqui, no gibi “Jovenilda Confinada”:

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Já o segundo gibi, “Soltando o verbo”, foi produzido depois do concurso, e idealizado em parceria entre o professor Marcos e a equipe Adole-sendo.

Todas as tirinhas estão interligadas em um trabalho de escola da turma, sobre “como é ser adolescente” na volta às aulas, ainda no contexto da pandemia. A partir desta tarefa, Jovenilda, que quer ser jornalista, vai entrevistando cada um dos seus colegas de sala e descobrindo sentimentos e fragilidades, mas, principalmente, debatendo características da idade!

Nosso objetivo aqui no portal é trazer informações científicas que expliquem como e porque essas mudanças da adolescência ocorrem, e porque os comportamentos mudam nessa idade. Afinal, é importante entender que comportamentos incluem a forma como percebemos as coisas, como sentimos, pensamos e agimos!

MAS O QUE TEM DE CIÊNCIA NESSES QUADRINHOS?

JULIETE

A primeira história, a da Juliete, discute a vulnerabilidade dos adolescentes a dificuldades com o sono. Essa história conta como adolescentes costumam dormir tarde. Isso não é um capricho. Acontece por conta de alterações relacionadas ao funcionamento do corpo nessa idade…

Como as aulas para essa faixa etária costumam começar bem cedo pela manhã, acontece que os adolescentes estão dormindo muito menos do que o necessário.

A falta de sono pode causar diminuição da capacidade de evitar infecções, aumenta sintomas de depressão e ansiedade e está associada à comportamentos impulsivos e até agressivos.

Isso varia, claro, de adolescente para adolescente. Nem todos são igualmente suscetíveis aos efeitos negativos de dormir pouco. Nisso, e em todo o resto, adolescentes são bem diferentes entre si. Portanto, cada um deles precisa de um olhar individualizado e especial.

Você sabia que adolescentes em geral precisam dormir umas 9 horas toda noite?

Lívia

A história da Lívia retrata o vaivém da autoestima nessa idade.

Embora adolescentes, algumas vezes se sintam por baixo, em outras, acreditam que são o máximo!

E isso é natural por vários motivos.

Eles ainda estão aprendendo como são, como lidar com as coisas, tentando se encaixar em seus grupos de amigos e, em paralelo, também precisam dar conta das suas novas responsabilidades.

Além disso, adolescentes ainda são muito vulneráveis a fatores que os deixam tristes. Eles não tiveram tempo, afinal, de ter muitas experiências. Portanto, ainda não tiveram a chance de desenvolver  estratégias para lidar com coisas complicadas e conflitantes.

A boa notícia é que a autoestima aumenta muito rapidamente a cada ano que passa, em especial nessa fase da vida.

Isso foi verificado em muitas gerações e em países diferentes ao redor do mundo.

 


Mudanças na autoestima (tamanho de efeito, d) relativos à idade de 4 ano.
Fonte: Orth et al. Psychological bulletin144(10), 1045 (2018):
estudo com mais de 150 mil pessoas de várias idades, países e gerações.

Isso tem sentido. Quanto mais experiências temos, mais aprendemos sobre nós mesmos e sobre como lidar com as coisas. Isso aumenta nossa autoconfiança. Ao que parece, a autoestima só cai mesmo quando temos uns 90 anos de idade…

Jean

Uma coisa que achamos super legal de pensar é o contraste dessa aparente baixa autoestima, retratada na história da Lívia, com a audácia que adolescentes têm ao enfrentar novas experiências.

Este aspecto de ser adolescente é ilustrado pela história do Jean.

Ou seja, se adolescentes e adultos sabem quais os riscos que estão correndo, eles tomam decisões semelhantes. Mas, quando os possíveis resultados de alguma coisa que vamos fazer são incertos, os adolescentes têm muito mais disposição a se arriscar do que os adultos!

Em outras palavras, adolescentes têm mais coragem.

Às vezes, dá errado e acontece de se meterem em encrencas. Este é um “efeito colateral” de ter coragem. Mas, sem essa coragem, seria muito difícil que eles aprendessem a lidar com a vida e a enfrentar todos os desafios que têm pela frente!

Melissa e Gabriel

De fato, às vezes essa coragem toda da adolescência sai meio errado, como no caso da história do Gabriel.

Com sua identidade escondida nas mídias sociais, ele tem a ousadia de dizer coisas online que não teria se estivesse cara a cara com os colegas, como com a Melissa.

Esse é um dos muitos problemas associados ao uso das mídias na geração atual dos adolescentes.

Por outro lado, o uso de mídias veio para ficar e pode, também, servir de apoio social para muitas pessoas.

Ao que parece, os adolescentes estão bem a par, às vezes até muito mais que os adultos, sobre como se protegerem online.

Em todo caso, se seus pais estão preocupados com isso, você deve explicar para eles o que você está fazendo para se proteger. Eles provavelmente vão ficar bem espantados com seu conhecimento.

Se você não sabe muito sobre isso, converse com um colega que conhece e/ou com um adulto descolado.

E tem mais uma coisa nessa história do Biel: adolescentes têm muita dificuldade de se colocar no lugar de outras pessoas. Eles também têm dificuldade de interpretar as emoções dos outros.

Portanto, se os colegas magoam ou ofendem você, é bom que deixe isso bem claro, falando isso para eles. Muitas vezes, não adianta esperar eles “se tocarem” ou fazer caras e bocas porque adolescentes simplesmente não captam muito bem esse tipo de “dicas” que não são faladas. É isso mesmo. Quando somos adolescentes machucamos as pessoas sem se tocar.

Valentina

A Valentina tem outro desafio… assim como muitos adolescentes, ela tem dificuldade de regular os seus sentimentos… no caso dela, o que mais pega é a Tensão Pré-Menstrual (TPM).

Isso não acontece só em meninas adolescentes. Esses sintomas também acontecem com mulheres adultas. Mas, na adolescência, este é um problema ainda maior, por dois motivos.

Veja mais sobre isso nesse post.

Primeiramente, a adolescência é uma fase em que se é muito sensível a estresse e sintomas associados à tristeza.

Quando isso sai do controle, pode levar ao desenvolvimento de depressão. Quadros como esse na adolescência são muito mais comuns em meninas do que meninos. Além disso, quando aparecem pela primeira vez na adolescência,  tendem a ser mais graves e perdurar por mais tempo ao longo da vida.

O segundo motivo é que, na adolescência, os ciclos menstruais demoram a se tornar regulares. Isso faz com que fique mais difícil para as meninas associação dos seus sentimentos às alterações hormonais que acontecem ao longo do mês.

E é bom que, no quadrinho, o namorado da Valentina entende isso! Mas, no geral, esse é um assunto tabu, o que não ajuda ninguém… É preciso falar sobre esse tipo de coisa!

Isaac

Problemas escolares e familiares na adolescência frequentemente têm a ver com as dificuldades dos adolescentes de planejar e/ou organizar as coisas, como no caso da história do Isaac.

Em parte, isso tem a ver com a falta de responsabilidade e falta de experiências anteriores.

Porém, essas dificuldades são associadas também a uma lenta maturação na adolescência dos sistemas do cérebro que permitem organizar e planejar (que ficam atrás da teste: o lobo pré-frontal).

Nas famílias, isso gera conflito em relação à ajuda que os pais esperam com as tarefas da casa; na escola, está relacionado ao mau rendimento e às notas baixas.

A solução não é só esperar o tempo passar e o cérebro amadurecer. Pessoas só conseguem ser boas organizadoras quando treinam isso. Uma coisa que pode ajudar é tentar bolar esquemas para evitar ter que planejar a mesma coisa muitas vezes, porque isso cansa o cérebro adolescente.

Veja como fazer listas do que fazer pode ajudar.

Por exemplo, aprender a usar agendas para marcar compromissos, especialmente aqueles fixos (ex. botar o lixo na rua nas terças e sextas); ou fazer listas do que tem que ser levado na escola todo dia, ou listas de qual matéria estudar em cada dia da semana…

Emily

A Emily muda de ideia toda hora sobre o que gosta de fazer.

Embora pareça inconstante, experimentar muitas coisas significa que ela está aprendendo e ganhando muitas experiências, o que é ótimo (em todas as idades)!

Mas, na adolescência, poder treinar várias coisas é melhor que em outras idades. Isso acontece porque o cérebro ainda está em formação. Isso faz com que seja mais fácil aprender coisas nessa fase do que na idade adulta.

Só é bom checar se a Emily não está abandonando um hobby só porque achou chato ou porque ficou difícil demais… isso pode ser um indicativo de que ela tem a mesma dificuldade que o Mário (veja na história abaixo).

É normal e bastante comum a gente querer evitar o sentimento de tédio ou de que não somos bons em alguma atividade, especialmente na adolescência, que é a fase em que a busca por experiências positivas está no auge na nossa vida.

Mas, quanto mais queremos ser bons em alguma coisa, mais temos que insistir nelas! E é preciso fazer esforço também para estudar, aprender, regular nossas emoções, aguentar os maus humores dos outros, e etc., etc., e etc…

Agir sem pensar ou impulsividade(s):

é, tem mais de um tipo…

Existem vários tipos de impulsividade e saber quais nos afetam pode ajudar no desenvolvimento de estratégias para lidar com perdas de controle.

EQUIPE ADOLE-SENDO

As histórias a seguir, dos personagens Mário, Miguel, Aline, Ronaldo, Kim e Felipe mostram diferentes consequências de imaturidade nesse sentido.

Veja se você se identifica com alguma dessas formas de perder o controle.

Uma questão importante que deixa adolescentes bem vulneráveis é perder o controle e se arrepender depois. Isso tem a ver com o que se chama de “impulsividade”. Pessoas de todas as idades enfrentam isso mas, na adolescência, esse tipo de dificuldade é maior por conta do processo de maturação do cérebro, que regula como a gente sente, pensa e age.

Mário

O Mário tem um traço mais forte de impulsividade chamado “falta de perseverança”.

Ele tende a desistir de fazer as coisas assim que elas se tornam trabalhosas ou chatas.

Ou seja, não insiste, não persevera até chegar no fim do que tem que ser feito. Isso, claro, pode não ser muito bom…

Afinal, temos que fazer tantas coisas que não são agradáveis ou fáceis na vida… tipo, estudar, ou praticar as coisas que temos que fazer para passar de ano, e/ou saber fazer alguma coisa bem, como colocar maquiagem ou ser hábil em jogos (videogame, pingue-pongue, futebol). E, até mesmo, precisamos evitar desistir rápido das nossas relações pessoais!

Por exemplo, toma tempo, às vezes, para a gente convencer alguém a sair com a gente. E quando a gente pisa na bola com alguém? Daí é necessário ter paciência e insistir bastante até ganhar de novo a confiança da pessoa que a gente magoou.

Para tudo isso é necessário fazer força para ter sucesso. Mas que é duro fazer isso, ninguém questiona, especialmente quando o cérebro ainda está em formação!

Miguel

O Miguel, por exemplo, tem dificuldades de controlar suas ações quando não está legal.

Ou seja, faz bobagens quando está se sentindo acuado, triste, bravo, etc. Depois… se arrepende!

Esse tipo de impulsividade se chama “urgência negativa”.

Arrependimento ajuda a gente a aprender a fazer as coisas de forma diferente. Mas esse processo envolve aprender como e porque agimos da forma como agimos e quais são as alternativas que existem. Isso é demorado e difícil…

Dandara

Já a Dandara não pensa nas consequências do que faz.

Vai agindo e pronto, sem ver no que vai dar depois. 

Esse tipo de impulsividade se chama “falta de premeditação”.

Isso pode colocá-la (e às vezes até outras pessoas) em risco, como também acontece com alguns outros tipos de impulsividades discutidas aqui.

Por exemplo, a Juliete, bem que podia pensar que vai ter sono na aula se dormir muito tarde…

O Gabriel devia pensar nas consequências dos seus atos para a vida dele e, principalmente, para a vida da Melissa, contra quem ele fez cyberbullying!

E o Ronaldo, então… devia pensar no que pode acontecer se não tomar cuidado quando resolve beber, e dirigir…

Dá para os adolescentes pensarem nas suas responsabilidades, mas é bem mais difícil do que para os adultos, porque adultos já têm um cérebro maduro!

Naldo

Embora o Ronaldo seja um pouco mais velho que a turma e tenha idade para beber bebidas alcoólicas, ele vacila.

Resolve voltar da festa de moto, mas está meio bêbado. Isso é bem complicado. Não dá para dizer que ele não sabe que não se deve dirigir nesse estado. Ele sabe!

Mas o estado de euforia dificulta que ele controle suas decisões. Outra coisa comum feita por pessoas com essa característica é gastar dinheiro demais ou fazer apostas imprudentes quando estão “naquela felicidade”.

Outra coisa comum é a gente entrar no carro sabendo que quem vai dirigir bebeu demais. O pior é que as bebidas alcoólicas atrapalham a nossa capacidade de se perceber nossos limites. A gente se acha meio invencível mesmo e fica sem noção.

Felipe e Kim

Agora, o Felipe e a Kim vivem uma história marcada por uma das características mais naturais da adolescência: a busca por sensações fortes e positivas.

Isso é biológico e mais forte nessa fase  da vida em comparação à infância e à idade adulta. Faz parte disso experimentar emoções, como se apaixonar. Isso costuma acontecer pela primeira vez, e de forma muito intensa e inesquecível, na adolescência.

O ideal é que essas emoções e experiências sejam vivenciadas, claro. Mas precisam ocorrer de forma segura. Só que isso exige habilidades que ainda estão amadurecendo na adolescência:

1. a capacidade de frear vontades, por conta da imaturidade cerebral; e

2. a falta de experiência em como lidar com as coisas.

Que pena que, nessa idade, pode acontecer de haver consequências bem complicadas das coisas que fazemos, mesmo que sejam naturais e façam parte dos direitos dos adolescentes

Adolescentes, portanto, precisam de muito apoio, de todos em seu entorno, amigos e familiares. Precisam disso enquanto aprendem e seu cérebro amadurece.

Uma nota final

Enfim, sem sombra de dúvidas, é difícil ser adolescente….

Temos que aprender a lidar com muitas novidades e muitas emoções!

E é natural que experimentem coisas novas o tempo todo e que, às vezes, se metam em enrascadas...

Com o trabalho da Jovenilda foi possível discutir alguns aspectos desses comportamentos que são comuns a muitos adolescentes. Para ler todas essas histórias em quadrinhos, clique aqui.

Outro ponto importante é: cada adolescente é diferente e não dá para generalizar.

Atenção para a Jovenilda!

Sensível, organizada, líder, responsável e cheia de atitudes colaborativas em relação aos amigos, como nesses quadrinhos, assim como em relação à sua própria família (veja como ela foi na pandemia, em histórias elaboradas por adolescentes participantes do Concurso Adole-sendo na Pandemia).

Qual será o fraco dela? Aguarde novas histórias e/ou sugira algumas para a Equipe Adole-sendo.

O desenvolvimento dos adolescentes é melhor quando há abertura, diálogo e muita (MUITA) paciência e apoio dos adultos para tudo, inclusive para resolver situações complicadas nas quais adolescentes se metem, às vezes…

Isso, claro, faz a vida de mães, pais e professores também ser desafiadora. Esses adultos querem proteger os adolescentes, mas precisam de tempo para entender que não podem, conseguem, nem devem controlar todos os aspectos da vida desses jovens!

Adolescentes também precisam ter paciência com os adultos, que também demoram a aprender que suas crianças cresceram…

Isso tudo parece muito complicado, mas dá bem certo quando adolescentes conseguem se comunicar com os adultos!

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