Obras de arte que retratam adolescentes

Obras de arte que retratam adolescentes

14 de março de 2023 Material de Divulgação 0

Por Sabine Pompeia e Luiz Marques

Já pensou? A Maria de Nazaré (Virgem Maria) é uma figura religiosa que era claramente adolescente.

Uma adolescente muito jovem quando engravidou!

Embora as escrituras não relatem sua idade, segundo os costumes da época ela teria provavelmente menos de 14 anos quando deu a luz a seu filho, Jesus.

Nos dias de hoje isso não é mais considerado aceitável.

Mas isso fazia parte da cultura descrita no Novo Testamento. Portanto, esse fato e suas representações devem ser considerados naquele contexto histórico e cultural.

Ou seja, o momento histórico em que imagens são vistas (hoje) e produzidas (no passado) e os pontos de vista, cultura e religião das pessoas envolvidas em sua visualização (nós) e produção (o artista) interferem na maneira como as coisas são interpretadas e representadas.

Mantenha isso em mente ao ver as imagens que selecionamos, listadas a seguir.

Algumas delas explicam nossa História que, em parte, influencia nossos papeis sociais e comportamentos até hoje.

Para ver o texto completo desse post com explicações em uma obra única, baixe nosso e-book gratuito para professores sobre porque e como imagens podem ajudar na aprendizagem.

Esse e-book tem o objetivo de instrumentalizar professores a usar mais imagens para enriquecer suas práticas pedagógicas.

São apresentados exemplos de como usar esse tipo de recurso para esses fins em todas as disciplinas e com alunos de qualquer idade.

Porém, o foco é em obras de arte que retratam adolescentes.

Para baixar o e-book clique em “pdf” em: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/67395


Como determinar se uma imagem em uma obra de arte representa um adolescente?

Saber se uma pintura ou escultura representa um adolescente não é simples.

A concepção do que é um adolescente variou ao longo da história e da cultura.

Além disso, a idade de pessoas figuradas não costuma ser explicitada nas obras.

Mesmo assim, é possível ter uma ideia de que obras retratam adolescentes das seguintes formas:

  1. com base em documentos históricos sobre as pessoas representadas (ex. Joana d’Arc);
  2. quando as pessoas representadas são personagens mitológicos, fictícios e/ou religiosas que eram adolescentes (por exemplo, a Virgem Maria quando deu à luz Jesus);
  3. quando o título ou algum aspecto escrito na ou sobre a obra explicita que se trata de um(a) jovem na segunda década de vida;
  4. quando a representação tem estatura um pouco menor que outros e/ou apresenta características visuais típicas de adolescentes, como mamas pequenas e traços de bigode.

Às obras

As obras de arte abaixo apresentadas estão ordenadas de forma cronológica considerando a época em que foram produzidas.

Todas estão em domínio público. Os links para suas respectivas páginas com mais descrições e detalhes podem ser encontrados abaixo de cada uma delas.

Fizemos alguns comentários em baixo de cada imagem para chamar a atenção a alguns fatos e considerações.


Autor: desconhecido (Brasil -Piauí); Título/descrição: desenho rupestre; Técnica: ocre vermelhos sobre rocha; Ano: 17.000 a 25.000 anos antes do presente; Local onde está preservada: Parque Nacional Serra da Capivara.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_Serra_da_Capivara#/media/Ficheiro:Puni%C3%A7%C3%B5es_(14205232887).jpg (fotografado por Douglas Iuri Medeiros Cabral).


Comentário:
há indicações de que as figuras na extrema direita e esquerda são homens (falos ou pênis presentes). A figura ao meio tem estatura um pouco menor que as demais, o que pode ser um indicativo de que se trata de um jovem adolescente. O papel de cada figura e o que elas representam são fatores, contudo, incertos, pois a cultura de quem produziu a pintura, suas práticas, crenças e valores são desconhecidos. Assim, interpretações sobre aspectos simbólicos de imagens como essas são complexas e impossíveis de comprovar. Ainda assim, é possível aventar hipóteses baseadas no estudo de representações semelhantes em outras sociedades ao redor do mundo. Com base nisso, alguns antropólogos sugerem que esta imagem represente punições.



Statue of Tjeteti as a young man, Wood
Statue of Tjeteti in middle age, Wood
Autor: desconhecido (Egito); Título/descrição: Tjeteti Representado Como Homem Jovem (em cima) e Mais Velho (em baixo); Técnica: escultura em madeira; Dimensões: 15,0 × 29,2 cm; Ano: 2.200–2.152 antes de Cristo (a.C.); Local em que a obra está preservada: The Metropolitan Museum of Art. https://images.metmuseum.org/CRDImages/eg/original/DP-16961-02.jpg; https://images.metmuseum.org/CRDImages/eg/original/DP-16962-01.jpg

Comentário: Tjeteti é aqui apresentado como jovem (em cima) e mais velho, quando foi um oficial egípcio (em baixo). A datação da obra se baseia no estilo (olhos grandes, mãos grandes) que refletem ideais religiosos de uma dada época. Sua diferença de idade aqui é representada principalmente pela expressão facial (mais séria no idoso). Isso reflete a ideia da época sobre as diferentes características comportamentais, a depender da idade. A partir disso, poderia-se inferir, por exemplo, que havia menos pressão em jovens de sua classe social nessa época. A roupa usada é também diferente (mais curta no jovem). De fato, o tipo de roupa e adornos que as pessoas podem usar comumente mudam de acordo com a idade e sexo do indivíduo em muitas culturas, assim como o arranjo e/ou corte de cabelo (em geral em mulheres), o que não é o caso nessas esculturas.


Autor: desconhecido (Egito – Tebas); Título/descrição: A Filha do Caçador (detalhe de uma pintura em parede da Tumba de Menna); Técnica: pintura sobre parede; Ano: 1422 a 1411 antes de Cristo (a.C.); Local em que a obra está preservada: Tumba de Menna.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tomb_of_Menna_-_hunter%27s_daughter.jpg

Comentário: embora pouco seja conhecido sobre Menna, sua tumba fornece pistas sobre o dia a dia da vida no Egito Antigo, incluindo o papel social e as atividades exercidas por jovens, que diferiram muito ao longo da História em diferentes culturas. Aqui é possível ver a participação de uma jovem garota nos negócios da família, a caça e pesca, que tradicionalmente são funções masculinas em outras culturas. O estilo artístico/estético auxiliou na datação da tumba: o pequeno nariz, os olhos alongados e pupilas que desaparecem abaixo das pálpebras são todas características de um estilo de um período específico. Para ver a tumba em 3D clique aqui.



Terracotta kylix (drinking cup), Attributed to the Painter of Munich 2660, Terracotta, Greek, Attic
Terracotta kylix (drinking cup), Attributed to the Painter of Munich 2660, Terracotta, Greek, Attic
Autor: atribuído ao “Pintor de Munique 2660” (Grécia – Ática); Título/descrição: Cílice (copo de beber vinho); Técnica: terracota (cerâmica); Dimensões: 7 x 20 cm; Ano: 460 antes de Cristo (a.C.); Local em que a obra está preservada: The Metropolitan Museum of Art. https://www.metmuseum.org/art/collection/search/250548?ft=greek++student&offset=0&rpp=40&pos=7


Comentário: a obra retrata rapazes atenienses da Grécia Antiga. Da idade de 6 ou 7 a cerca de14 anos eles eram educados em nível fundamental em três diferentes locais. Eles aprendiam a ler, escrever e aritmética em instituições privadas, que eram acessíveis mesmo a famílias sem muitas condições financeiras. Eles aprendiam também a tocar lira, cantar e dançar com tutores (pagos) e treinavam atletismo e luta (incluindo o boxe) em ginásios públicos ou privados, com o intuito de manter uma boa saúde e preparar cidadãos para defender sua cidade. A parte interna do copo mostra um garoto indo à “escola” carregando uma tábua de escrever (dois pedaços de madeira amarrados entre si que continham um dos lados cobertos de cera. Escreviam sobre a cera e depois passavam um tipo de estilete para “apagar” o que fora escrito antes). Sugere-se que as figuras nas bordas externas do copo mostram garotos “brincado” de professor e aluno.  Dois dos rapazes carregam rolos de papiro (um tipo de papel) enrolados nos quais eram escritos poemas a serem integralmente memorizados (como a Ilíada). Essa obra mostra como Atenas foi o modelo da educação que perdurou de 2500 anos atrás até hoje, ao menos para os garotos que não eram muito pobres. Para as garotas, as condições eram diferentes: elas eram educadas em casa e aprendiam habilidades domésticas. Havia também muita diferença no tipo de educação recebida em outras cidades-estado, como Esparta, na qual o foco da educação era ensinar jovens do sexo masculino e se tornarem guerreiros e os do sexo feminino a serem atléticas para gerar guerreiros.



Marble grave stele of a young woman and servant, Marble, Pentelic, Greek, Attic
Autor: desconhecido (Gécia – Ática); Título/descrição: Estela Funerária de Jovem Mulher e Serviçal; Técnica: escultura em mármore; Dimensões: 178 cm; Ano: 400–390 antes de Cristo (a.C.); Local em que a obra está preservada: The Metropolitan Museum of Art. https://collectionapi.metmuseum.org/api/collection/v1/iiif/253505/539716/main-image

Comentário: a jovem mulher à direita representa uma pessoa morta que se recosta sobre sua própria tumba numa pose inspirada em uma escultura da época da deusa Afrodite. Tanto ela, como a figura menor, à esquerda, vestem túnicas parecidas, típicas desse período. Contudo, a figura à esquerda é representada como menor para indicar sua menor idade (talvez seja uma irmã da morta) ou seu menor status social (talvez fosse uma escrava). O cabelo da figura à esquerda é, ainda, cortado curto, uma prática comum em muitas culturas para indicar o luto.



Autor: desconhecido (Egito); Título/descrição: Retrato Funériario de Escravo Liberto; Técnica: pintura sobre madeira; Dimensões: 38 x 19 cm; Ano: 100-150 depois de Cristo (d.C.); Local em que a obra está preservada: The Metropolitan Museum of Art. https://collectionapi.metmuseum.org/api/collection/v1/iiif/547951/2174855/main-image

Comentário: este é um retrato funerário colocados sobre a tampa de sarcófagos de múmias. Eles foram encontrados sobretudo na cidade e oásis de Faiyum, no médio Egito, e por isso são chamados retratos de Faiyum. Datam em geral do período em que Roma dominava o Egito, a partir do século I a.C. Os últimos retratos funerários de Faiyum datam do século III d.C. Com base em suas roupas, corte de cabelo e estilo de pintura, a obra retrata um adolescente egípcio.  Essa cultura era de origem multiétnica (incluindo egípcios, gregos, romanos e outros) pois o Egito, que já havia sido governado por gregos, estava então, como dito acima, sob domínio de Roma. A tinta usada incluía vários pigmentos, cera de abelha, ovos, resinas e óleos que perduraram até hoje, uma técnica de pintura, chamada encáustica, que era usada na Grécia e em Roma naqueles séculos.  A inscrição que pode ser vista na gola (“Eutyches, liberto de Kasanios) indica que o jovem falecido era um ex-escravo.


Women athletes shown competing in several sports
Autor: desconhecido (estilo de ateliês norte-africanos de cultura romana; Itália – Sicília); Título/descrição: Meninas de Biquini; Técnica: mosaico; Ano: século IV d.C.; Local em que a obra está preservada: Villa Romana del Casale, Sicília. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/3c/Mosa%C3%AFque_des_bikinis%2C_Piazza_Armerina.jpg (fotografado por Yann Forget)

Comentário: esta imagem é parte de um mosaico presente no chão de uma Villa (moradia rural de pessoas ricas) que contém 10 figuras femininas vestindo o que parecem ser biquinis, usados para fazer exercício e não para nadar. A parte de baixo era feita de couro e chamada de “subligaculum”; a parte de cima (“strophium”) era feita de linho.  Note os ‘pesos’ da garota à esquerda, que são como os de hoje, mas na época serviam como parte do treino para ganhar força nos braços para ajudar a saltar mais longe. A figura do meio está treinando jogar discos e as demais estão correndo. Esses eram esportes populares desde a Grécia antiga, na qual o exercício físico era extremamente valorizado, e perduram até hoje como modalidades esportivas nas Olimpíadas.  Para ver o mosaico inteiro consulte https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Villa_del_Casale_(9530792198).jpg (fotografado por Jos Dielis).


https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/ba/Zhou_Fang._Court_Ladies_Playing_Double-sixes._Freer_Gallery_of_Art.jpg/1920px-Zhou_Fang._Court_Ladies_Playing_Double-sixes._Freer_Gallery_of_Art.jpg

Autor: atribuído a Zhou Fang (傳)周昉; China); Título/descrição: Mulheres do Palácio Jogando; Técnica: tinta sobre seda; Dimensões: 30,5 x 69,1 cm; Ano: 730 a 800 d.C.; Local em que a obra está preservada: National Museum of Ancient Art.

https://asia.si.edu/object/F1960.4/; veja também https://theme.npm.edu.tw/opendata/DigitImageSets.aspx?sNo=04014694&lang=2&Key=&pageNo=284

Comentário: mulheres de famílias importantes ao longo da história tinham muitas acompanhantes e serviçais/escravas que costumavam ser garotas jovens, que podem ser vistas trabalhando (à esquerda) enquanto suas amas se divertem jogando (ao meio). Note as diferenças nas roupas e estilos de penteados que costumam refletir diferenças de idade e classes sociais. O extrato social das famílias impactou e continua a ter um efeito considerável nas perspectivas e estilos de vida das pessoas até hoje.


Wolfram von Eschenbach & His Squire
Autor: desconhecido (Suiça); Título/descrição: Wolfram von Eschenbach e Seu Escudeiro; Técnica: iluminura[1] medieval (têmpera sobre pergaminho; Codex Manesse); Ano: 1305-1315 d.C.; Local em que a obra está preservada: Heilderberg University Library. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Codex_Manesse_149v_Wolfram_von_Eschenbach.jpg

Comentário: esta imagem é uma das ilustrações do mais importante manuscrito (Códice[2]) alemão da Idade Média. Wolfram von Eschenbach (retratado à direita) foi um cavaleiro e poeta que viveu aproximadamente entre 1170 e 1220 e é considerado um dos melhores autores da literatura germânica embora fosse analfabeto (contratava pessoas para escrever as obras que ele ditava). Compôs uma obra literária importante chamada “Parsifal”, que conta a história de um herói que busca o cálice sagrado de Cristo. A figura à esquerda é um jovem escudeiro, uma profissão que envolvia acompanhar os cavaleiros, cuidar de sua armadura, cavalo etc. Carregavam também o estandarte de seus amos durante as batalhas. Esta era apenas uma das muitas tarefas arriscadas por quais menores de idade eram responsáveis neste tempo e são até hoje em muitos contextos, sem que se considere sua vulnerabilidade (por exemplo, são menores e mais fracos que adultos, o que é uma desvantagem em combates corpo a corpo). Neste caso, isso contrasta com o tema da obra deste cavaleiro que enfatiza as virtudes da compaixão e da espiritualidade. Ou seja, a compaixão por jovens não era parte da cultura da época…


Autor: desconhecido (França); Título/descrição: Joana d’Arc Expulsa as Prostitutas do Exército; Técnica: iluminura, manuscrito do poeta Martial d’Auverne, “Vigílias do rei Carlos VII”; Ano: cerca de 1484 d.C.; Local em que a obra está preservada: Bibliothèque Nationale de France. https://en.wikipedia.org/wiki/Cultural_depictions_of_Joan_of_Arc#/media/File:Vigiles_du_roi_Charles_VII_63.jpg

Comentário: Joana d’Arc foi uma adolescente analfabeta francesa de uma família de camponeses. Ela teve visões de santos e anjos que fizeram com que acreditasse que teria um papel crucial na libertação da França do domínio dos ingleses. O rei francês da época, Carlos VII, mandou-a para a guerra contra seus inimigos com a esperança de que a pureza da moça facilitasse uma intervenção de Deus a seu favor. Aqui, mostra-se um episódio no qual ela afugentou amantes dos soltados e prostitutas, o que era condizente com a manutenção da “pureza” do exército. Capturada pelos ingleses, foi julgada e condenada à morte na fogueira aos 19 anos por bruxaria. Parte da justificativa para essa condenação foi que ela usava roupas masculinas, o que seria uma indicação de “heresia”.  Como se vê, práticas sexuais de mulheres e questões de gênero foram usadas há muito tempo para subjugar grupos minorizados e/ou pessoas que não conformavam com certas regras sociais. Além disso, o fato dela ter visões indica a presença um provável transtorno psiquiátrico (por exemplo, esquizofrenia). Muitos de tais transtornos, de fato, costumam iniciar durante a adolescência.


The Hunters Return to the Castle (from the Unicorn Tapestries), Wool warp with wool, silk, silver, and gilt wefts, French (cartoon)/South Netherlandish (woven)
Autor: desconhecido (França/Bérgica); Título/descrição: Caçadores Retornam ao Castelo; Técnica: tapeçaria (lã, seda, prata e fios dourados); Ano: 1495–1505 d.C.; Local em que a obra está preservada: The Metropolitan Museum of Art. https://collectionapi.metmuseum.org/api/collection/v1/iiif/467641/940929/main-image

Comentário: trata-se de uma tapeçaria pertencente a um conjunto de sete, intitulado “A caça do Unicórnio”. Nesta precisa tapeçaria, a última do conjunto, dois momentos são representados. À esquerda, caçadores matam um unicórnio (provavelmente, uma alegoria da morte de Cristo); à direita, os caçadores levam o unicórnio morto a seus senhores, que aguardam em frente a seu castelo, já com seu chifre cortado. Já nessa época se sabia que unicórnios não existiam, mas eles eram e ainda são usados para simbolizar virgindade, pureza, a morte de Cristo, como nesse caso, e também como entidade com poderes mágicos (em especial seu chifre), mostrando uma mistura de simbologias que pode aparecer até mesmo na mesma obra. À direita em baixo é possível ver um jovem rapaz que, por sua pose e roupas e por estar próximo ao casal que aguarda os caçadores, indica ser um garoto de classe alta. O que era esperado de rapazes assim contrasta muito com os atributos e expectativas que se tinha de jovens pobres e escravos retratados em outras obras deste período.


Autor: Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (Michelangelo; Itália – Florença); Título/descrição: David; Técnica: escultura em mármore; Dimensões: 517 cm × 199 cm (434 cm sem o pedestal); Ano: 1501-1504 depois de Cristo (d.C.); Local em que a obra está preservada: Galleria dell’Accademia. https://pt.wikipedia.org/wiki/David_(Michelangelo)#/media/Ficheiro:Michelangelo’s_David_2015.jpg (fotografado por Livioandronico2013)

Comentário: esta obra retrata o personagem principal do relato bíblico (Antigo Testamento, Livro de Samuel 1,7) da luta entre Davi, um pastor provavelmente adolescente, e Golias, o gigante e mais temível guerreiro dos Filistinos, que estavam em guerra contra os Israelitas. Corajoso, David ofereceu-se para lutar contra Golias com apenas uma funda (“estilingue”) e 5 pedras. Assim que começou o confronto, Davi com sua funda lançou uma pedra na testa de Golias, que caiu, nocauteado. Esse relato retrata a menor aversão a riscos que adolescentes apresentam, comparados a adultos. Embora isso possa resultar numa maior propensão a riscos, permite também a superação de desafios, o que é essencial para o desenvolvimento e ganho de experiências à medida que se amadurece. Para ver a imagem em 3D: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:%27David%27_by_Michelangelo_Fir_JBU005_denoised.jpg#/media/File:David_(Michelangelo).stl


Autor: Hieronymus Bosch (Holanda); Título/descrição: Jardim das Delícias Terrenas; Técnica: óleo sobre madeira; Dimensões: 2,20 m x 3,89 m; Ano: 1503-1515 d.C.; Local em que a obra está preservada: Museo Nacional del Prado. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Garden_of_Earthly_Delights_by_Bosch_High_Resolution.jpg

Comentário: esse tríptico (conjunto de 3 quadros) tem representações nas duas faces. Quando fechados (veja abaixo), os painéis laterais representam a criação do mundo pelo criador, visto no canto superior à esquerda. Quando abertos, os três segmentos do tríptico mostram, da esquerda para a direita: 1) a criação de Adão e Eva no Paraíso ou Éden;  2) após a expulsão do Éden pelo pecado original, Bosch imagina o mundo terreno como um jardim de delícias, onde os jovens interagem despreocupadamente num contexto de forte conotação erótica; e 3) o inferno, em decorrência dos pecados cometidos no painel central. É bastante clara a mensagem cósmico-religiosa e moralmente rigorista do tríptico. Deus cria o mundo e o universo, representado como uma esfera vítrea, muito vulnerável na parte externa. Cria em seguida o homem e a mulher, cujas relações conduzirão ao pecado, punido com a condenação da humanidade ao inferno. Este é representado com requintes de crueldade e com forte associação à música, entendida como uma linguagem dirigida sensualmente aos sentidos. No mundo imaginado por Bosch no painel central comparecem em geral pessoas jovens, brancas e algumas negras. Para alguns historiadores, isso sugere “certa curiosidade sexual da adolescência”, ou seja, a conexão do Homem com sua natureza, o que foi com frequência associada ao pecado. 

É possível examinar cada detalhe dessa pintura nos links:  https://tuinderlusten-jheronimusbosch.ntr.nl/en#; https://archief.ntr.nl/tuinderlusten/en.html


Autor: Shaikh Zada (Afeganistão – Harat);  Título/descrição: Laila e Majnun na Escola; Técnica: tinta, aquarela opaca e ouro sob papel [Folio 129 de um Khamsa (Quinteto) de Nizami de Ganja em um códice]; Dimensões: 11,4 x 19,1 cm; Ano: 1510 a 1550 d.C.; Local em que a obra está preservada: The Metropolitan Museum of Art. https://www.metmuseum.org/art/collection/search/446603

Comentário: o conto arábico de Laila e Majnun é parecido com o de Romeu e Julieta. A imagem retrata como se conheceram na escola, onde se apaixonam à primeira vista. Além do casal, é possível ver outras atividades típicas de adolescentes na escola (alunos lendo e escrevendo mas também pulando aula, dormindo…) bem como a presença de um professor. Isso mostra como atitudes em aula são bastante consistentes em diferentes tempos e culturas. Garotos (com turbantes) e garotas (com lenços na cabeça) se vestem de acordo com a religião islâmica, que defende a importância da aquisição do conhecimento para ambos os sexos, o que difere de outras religiões, culturas e períodos históricos, nos quais em geral somente garotos podiam e podem estudar. A decoração reflete a cultura persa (tapetes, mosaicos nas paredes, etc.), assim como o fato que todos se sentam ao chão e não em cadeiras.


Autor: Matthias Grünewald (Alemanhã); Título/descrição: Madona de Stuppach; Técnica: óleo sobre madeira; Dimensões: 150 x 186 cm; Ano: 1517 – 1519 d.C.; Local em que a obra está preservada: Pfarrkirche Mariä Krönung.
https://en.wikipedia.org/wiki/Stuppach_Madonna

Comentário: “Madona” é o nome que se dá para representações de Nossa Senhora ou Virgem Maria, mãe de Jesus, em pinturas ou esculturas. Pelas escrituras, ela era uma jovem adolescente, mas aqui aparece como uma mulher madura com uma criança (Jesus). Há muitas outras inconsistências nessa representação em relação ao que dizem os Evangelhos. A Madona veste roupas que indicam que ela era rica, mas nas escrituras ela era uma mulher simples. A paisagem e as construções ao fundo são típicas da Alemanha da época em que a pintura foi feita e não a paisagem do Oriente Médio e edifícios da época de Cristo. O arco-íris é pintado como um halo (nimbo, auréola ou glória), um símbolo comum da graça de Deus que é representado em torno da cabeça de pessoas sagradas ou santas. Há também uma espécie de halo ao redor de Deus, que aparece ao fundo à esquerda, rodeado de anjos. Os lírios (flor branca) representa pureza, inocência e castidade que, na época em que a pintura foi feita, era associada à Madona.



Anna Meyer, c.1526 - Hans Holbein, o Jovem
Autor: Hans Holbein o Jovem (Alemanhã -Munique); Título/descrição: Retrato de Anna Meyer; Técnica: desenho preparatório, carvão sobre papel; Dimensões: 39 x 27 cm; Ano: 1526 d.C.; Local em que a obra está preservada: Schlossmuseum. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anna_Meyer,_by_Hans_Holbein_the_Younger.jpg

Autor: Hans Holbein o Jovem (Alemanha – Munique); Título/descrição: Madona de Darmstadt; Técnica: óleo sobre madeira; Dimensões: 146,5 ×102,0 cm; Ano: entre 1525/26 e 1528 d.C.; Local em que a obra está preservada: Würth Collection (coleção particular).  https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Darmstadt_Madonna,_by_Hans_Holbein_the_Younger.jpg

Comentário: você consegue achar essa menina de cabelos longos (Anna) no quadro de baixo? Esse quadro foi encomendado pelo pai de Anna, Jakob Meyer (retratado à esquerda), um ex-prefeito da Basileia. A Madona (Virgem Maria) cobre Meyer com um manto, indicando sua proteção. Note que a Madona é retratada como mulher madura, embora nas escrituras seja uma adolescente. As duas mulheres à direita são provavelmente a primeira esposa de Meyer (falecida) e sua segunda esposa. Anna aparece em baixo delas. Os meninos à esquerda são, possivelmente, irmãos de Anna.  Anna deveria ter entre 13 e 15 anos quando foi retratada no desenho de cima. Seu cabelo solto neste desenho preparatório simboliza sua virgindade. Esse tipo de desenho preparatório para pinturas era uma prática comum. Na pintura em si Anna aparece já com cabelo arrumados de acordo com o estilo adotado para ir à missa quando as meninas faziam 15 anos. Ela está de branco, o que simboliza que está noiva ou que acabara de se casar. Até recentemente, na maior parte das culturas, adolescentes do sexo feminino casavam-se durante a adolescência. Em muitos casos, até bem mais jovens, com cerca de 12 anos.


Autor: desconhecido (Alemanha); Título/descrição: Cozimento e Ingestão do Corpo do Cativo Executado; Técnica: xilogravura; Ano: 1557 depois de Cristo (d.C.); Local em que a obra está preservada: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. https://www.brasilianaiconografica.art.br/artigos/23614/as-primeiras-imagens-do-brasil-que-correram-o-mundo

Comentário: essa é uma ilustração do livro “A Verdadeira História dos Selvagens, Nús e Ferozes Devoradores de Homens no Novo Mundo”, do viajante alemão Hans Staden. Este autor viveu no Brasil por oito anos e foi capturado por indígenas Tupinambá, que o prenderam por 9 meses. Ele escapou e voltou à Alemanha em 1554. Três anos depois publicou sua experiência neste livro, detalhando os rituais antropofágicos (ato de comer carne humana) praticados pelos Tubinambás. Abaixo e acima na imagem é possível ver indígenas jovens dos dois sexos, menores que as demais figuras, que parecem ter feito parte também desse ritual. Contudo, rituais muitas vezes são reservados somente a certas pessoas de acordo com sua idade, sexos e/ou status social.


Autor: Michelangelo Merisi da Caravaggio (Caravaggio; Itália – Roma); Título/descrição: Narciso; Técnica: óleo sobre tela; Dimensões: 110 x 92 cm; Ano: 1598-1599 d.C.; Local em que a obra está preservada: Galleria Nazionale d’Arte Antica. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Narcissus-Caravaggio_(1594-96)edited.jpg#/media/Ficheiro:Narcissus-Caravaggio(1594-96)_edited.jpg 

Comentário: Narciso é um personagem da mitologia grega, um jovem rapaz conhecido por sua grande beleza. Ele rejeitava todos que se interessavam em ter uma relação amorosa com ele, até que viu seu próprio reflexo em um lago e se apaixonou por si mesmo. Assim permaneceu até morrer. É de seu nome que surgiu o termo “narcisista”, que quer dizer “fixado em si próprio”.  Esse mito reflete uma característica comum da adolescência: uma ainda imatura capacidade de pensar sobre os outros, colocar-se em seus lugares, e um foco exagerado na aparência física. Com o passar dos anos, gradualmente tornam-se mais empáticos e menos focados em si próprios.




An Evening School, Gerrit Dou (Dutch, Leiden 1613–1675 Leiden), Oil on wood
Autor: Gerrit Dou (Holanda); Título/descrição: A Escola Noturna; Técnica: óleo sobre madeira; Dimensões: 25,4 x 22,9 cm; Ano: 1655-1657 d.C.; Local em que a obra está preservada: The Metropolitan Museum of Art. https://www.metmuseum.org/art/collection/search/436209?ft=Gerrit+van+Honthorst&offset=0&rpp=40&pos=22

Comentário: também no século XVII os jovens precisavam ter aulas. Aqui são ilustrados jovens de ambos os sexos que provavelmente trabalhavam de dia e, por isso, somente podiam aprender a ler à noite. A luz sobre o livro simboliza a iluminação do conhecimento através do aprendizado, o que era muito valorizado pela religião protestante prevalente na Holanda nessa época, para que todos pudessem ler a bíblia. Isso incluía estender a escolarização a meninas. Diferentemente, à época, a leitura e interpretação da bíblia não era tão valorizada na religião católica.


Autor: Georges de La Tour (França); Título/descrição: Madalena Penitente; Técnica: óleo sobre tela; Dimensões: 133,4 x 102,2 cm; Ano:  1640 d.C.; Local em que a obra está preservada: The Metropolitan Museum of Art. https://www.metmuseum.org/art/collection/search/436839?ft=jorg+de+la+tour+candle&offset=0&rpp=40&pos=1

Comentário: você já deve ter ouvido falar na Maria Madalena, ou Maria de Magdala (local de origem no norte de Israel), de cujo corpo Jesus teria expulsado sete demônios (Evangelho segundo Lucas) e que se tornou a mais devota dos seguidores de Jesus. Ao que parece, no ano 519 o Papa Gregório I misturou a história dela com a de outra pessoa, a Maria de Bethania, considerada uma “mulher pecadora” que lavou os pés de Cristo. Em 1969,  reconhecendo este equívoco, o Papa Paulo VI retirou o atributo de “pecadora” de Maria Madalena, mas o mito de que ela era prostituta persiste até hoje. Dois mil anos atrás havia muito poucas escolhas para uma moça solteira ou que tinha uma vida que não conformava com os ideais femininos da época. Nesta obra, Maria Madalena aparece como uma jovem bela penitente.  A caveira simboliza quão efêmera é a vida; a vela, sua iluminação spiritual. O espelho simboliza sua vaidade, um atributo negativo muitas vezes associado a mulheres, em especial as que são jovens e bonitas. Novamente, se vê a dificuldade de aceitação social das mulheres que persiste até os dias de hoje e que se reflete em muitas imagens que retratam personagens femininas em diversas culturas ao longo da História.


Autor: Artemisia Gentileschi (Itália – Florença); Título/descrição: Judite e sua Serva; Técnica: óleo sobre tela; Dimensões: 197,2 x142,0 cm; Ano: 1623-1625 d.C.; Local em que a obra está preservada: Detroit Institute of Arts. https://dia.org/collection/judith-and-her-maidservant-head-holofernes-45746


Comentário: a obra retrata Judite, uma heroína do Antigo Testamento, que degolou o general Assírio Holofernes, que havia subjugado seu povo e exigia uma Virgem judia por noite e em seguida a matava. Judite ofereceu-se para o sacrifício e, após embriagá-lo, degolou-o. Aqui, Judite, à esquerda, monta guarda no acampamento dos Assírios, enquanto sua serva, à direita, esconde a cabeça de Holofernes. Na face de Judite aparece uma sombra em forma de lua crescente, um símbolo da deusa Ártemis, a deusa protetora de jovens mulheres. –  Note que no hemisfério norte a lua crescente tem um formato côncavo (em forma de D) e não convexo (em forma de C) como no hemisfério sul. – A obra faz parte de um conjunto de pinturas de Artemisia que retrata mulheres que foram capazes de enfrentar homens poderosos, um reflexo de sua própria experiência de vida. Artemisia é um caso raro de pintora exímia do sexo feminino. Foi filha de Orazio Gentileschi, um pintor famoso, aos 12 anos assumiu a posição de matriarca da família após a morte de sua mãe, foi então abusada por seu professor e, a despeito de ter dado queixa, foi torturada para que revelasse “a verdade” sobre o caso. Ela recusou-se a mudar seu testemunho e, mesmo assim, foi desacreditada e banida de sua terra natal, Roma, ao passo que nada ocorreu com seu abusador.


Autor: Albert Eckhout (Brasil); Título/descrição: Índia Tupi e seu Filho; Técnica: óleo sobre tela; Dimensões: 247,0 x 163,0 cm; Ano: 1641 d.C.; Local em que a obra está preservada: National Museum of Denmark. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/56/India_tupi.jpg/800px-India_tupi.jpg

Comentário: essa obra é um retrato do Brasil colônia, com uma fazenda atrás na paisagem e uma jovem indígena Tupi que, ao que parece, estava a serviço dos colonizadores. Ela aparece trabalhando e carregando seu filho, à frente. A obra foi comissionada pelo governador-geral do Brasil, João Maurício de Nassau-Siegen, enquanto o Nordeste brasileiro foi dominado pelos Holandeses. O artista é considerado um dos  primeiro a retratar imagens realistas do Brasil, em especial de indígenas das tribos Tupi e Tapuya. Nem sempre o Brasil foi aberto a visitas de estrangeiros. Durante longos períodos, somente pessoas autorizadas podiam entrar em nosso território dominado pelos portugueses.


Autor: Carlos Julião (Brasil); Título/descrição: Velho Entregando Carta de Amor à Uma Mulher Mulata; Técnica: aquarela; Ano: 1750-1795 d.C.; Local em que a obra está preservada: Biblioteca Nacional. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Velho_entregando_carta_de_amor_%C3%A0_uma_mulher_mulata._Obra_de_Carlos_Juli%C3%A3o.jpg


Comentário: aqui se vê uma incorporação de pessoas pardas a serviço dos colonizadores no Brasil e como algumas eram vestidas à semelhança da moda europeia, assim como seus amos. Jovens mulheres negras e pardas não tinham proteção alguma contra avanços amorosos de homens brancos e permanecem até hoje entre os grupos minorizados mais vulneráveis da sociedade ocidental. Há quem sugira, contudo, que nesse caso a carta de amor seria para a senhora dessa moça parda já que seria muito improvável que ela tivesse tido a possibilidade de aprender a ler.


A Young Man, Two Young Women and a Girl at a Picnic Party, Katsukawa Shunchō (Japanese, active ca. 1783–95), Middle sheet of a triptych of woodblock prints; ink and color on paper, Japan
Autor: Katsukawa Shunchō (Japão); Título/descrição: Jovem Homem, Duas Moças e Uma Menina Num Piquenique; Técnica: xilogravura; Dimensões: 37,0 x 25,4 cm; Ano: 1789 d.C.; Local em que a obra está preservada: The Metropolitan Museum of Art. https://collectionapi.metmuseum.org/api/collection/v1/iiif/36654/134066/main-image; https://www.metmuseum.org/art/collection/search/60000750

Comentário: aqui, a jovem menina é representada com o mesmo penteado e tipo de roupa que as moças mais velhas, mostrando que, nessa cultura, esses não eram sinais de idade, diferentemente de outras aqui apresentadas. O rapaz, à direita, tem uma espada na cinta e menos adornos nos cabelos. A qualidade das roupas dos retratados à frente indicam que essas pessoas eram de classe social alta, pois tais vestimentas envolvem o trabalho de muitos para produzir os tecidos, sua tintura, bordados etc. Ao fundo é possível ver outras pessoas e famílias abastadas passeando, bem como homens trabalhando (carregando sacas), ressaltando os contrastes de classe sociais que são prevalentes em todas as culturas ao longo da História. Ainda, a obra mostra como pessoas de muitas culturas, quando mais ricas, divertem-se de formas similar até hoje: passeando e comendo ao ar livre, uma atividade comum a muitas culturas. Nesse caso, vê-se também que nessa cultura era normal pessoas de ambos os sexos se divertindo juntos. Contudo, em muitos períodos históricos e culturas não era aceitável que jovens do sexo masculino e feminino interagissem livremente. Isto permanece verdadeiro ainda hoje em alguns países e religiões.


Autor: desconhecido (Índia); Título/descrição: Krishna Com Gado, Pastores e Adoradores; Técnica: guache e ouro sobre papel; Dimensões: 20,9 x 23,0 cm; Ano: 1790-1800 depois de Cristo (d.C.); Local em que a obra está preservada: Freer Gallery of Art. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Krishna_with_flute.jpg

Comentário: Krishna é uma divindade indiana que representa a proteção, a compaixão, a ternura e o amor. Ele é representado em várias fases da vida. Sua representação como adolescente, como nessa obra, inclui atributos como ser brincalhão e sedutor, o que condiz com a ideia geral que se tem sobre essa fase da vida, mesmo em diferentes culturas e épocas. Ainda, nessa forma ele comumente aparece tocando flauta, indicando como a música faz parte de encontros prazerosos. 


Autor: Johann Moritz Rugendas (França – Paris); Título/descrição: Costumes de Bahia; Técnica: litografia e aquarela sobre papel; Dimensões: 47,8 x 36,7 cm; Ano: 1827 d. C.; Local em que a obra está preservada: Instituto Moreira Salles. https://www.brasilianaiconografica.art.br/obras/19265/sem-titulo

Comentário: enquanto os jovens brancos namoram, personagens provavelmente serviçais trazem caça e pesca. O autor, Rugendas, esteve no Brasil entre 1822 a 1825. Sua obra foi influenciada por uma corrente filosófica da época que defendia o abolicionismo e considerava que as condições ambientais são essenciais para determinar o desenvolvimento humano. Embora tenha buscado retratar o que considerava ser uma “harmonia entre raças” no Brasil (romantismo tropical), essa gravura explicita a clara diferença entre grupos raciais que persistem nos tempos de hoje.


Autor: Prinz von Wield Maximilian (Alemanha); Título/descrição: Combate Singular de Botocudos do Rio Grande de Belmonte; Técnica: gravura (água-forte e tinta sobre papel); Dimensões: 35,4 x 51,2 cm; Ano: 1822 d.C.; Local em que a obra está preservada: Pinacoteca do Estado de São Paulo. https://www.brasilianaiconografica.art.br/artigos/23402/a-comitiva-do-principe-alemao-entre-os-indigenas#zoom19717

Comentário: Botocudos é a denominação genérica dada pelos portugueses a diferentes grupos indígenas pertencentes ao tronco macro-jê (grupo não tupi), cujos indivíduos usavam botoques nos lábios e orelhas. O autor foi um dos primeiros naturalistas a visitar o Brasil após a abertura das fronteiras Brasileiras por Don João VI. Antes disso, estrangeiros precisavam obter autorização para entrar no território português do Brasil, um direito dado a raríssimos indivíduos. Essa obra retrata jovens rapazes treinando luta. Esse tipo de atividade masculina, importante para a defesa de seus grupos sociais, é um tipo de representação comum, que remonta à Grécia antiga. Esse treinamento perpassa em geral a adolescência, uma fase de desenvolvimento na qual o exercício físico tem enormes benefícios na obtenção de musculatura e controle motor.  



Autor: Jean-Baptiste Debret (gravador Thierry Frères; França – Paris); Título/descrição: Ambulantes (acima) e Boutique de Barbeiros (abaixo); Técnica: litografias em cores sobre papel; Dimensões: 50,4 x 33,3 cm; Ano: 1835 d.C.; Local em que a obra está preservada: Coleção Brasiliana Itaú. https://www.brasilianaiconografica.art.br/artigos/23409/barbeiros-atuavam-como-cirurgioes-no-rio-de-janeiro-imperial

Comentário: a obra retrata “barbeiros”, pessoas que, além de barbear e cortar cabelo, retiravam dentes, aplicavam ventosas e faziam sangria. Eles eram geralmente negros ou pardos, escravos ou libertos, pois essa era uma profissão pouco valorizada, embora a maior parte da população só pudesse recorrer a eles dada a escassez de médicos (chamados na época de ‘’físicos”). Ainda, os que atuavam como ambulantes (como na obra de cima) eram menos valorizados do que os tinham estabelecimentos fixos (como na obra em baixo). Entretanto, havia bastante procura por aqueles mais talentosos com as navalhas, que deixavam as pessoas com cortes de cabelo mais elegantes. Às moças negras e pardas eram reservado outro tipo de ganha pão, como vender quitutes, tal como mostra a figura na imagem de baixo, à direita.


Autor: Edgar Degas (França); Título/descrição: Jovens Espartanos se Exercitando; Técnica: óleo sobre tela; Dimensões: 109,5 x 155 cm; Ano: cerca de 1860 depois de Cristo (d.C.); Local em que a obra está preservada: The National Gallery. https://en.wikipedia.org/wiki/Young_Spartans_Exercising

Comentário: a obra retrata uma imagem idealizada no século XIX sobre como era a sociedade de Esparta na Grécia Antiga. Aqui, um grupo de jovens garotas interage com rapazes e os desafia à luta. Na sociedade espartana, pessoas de ambos os sexos eram educadas separadamente e havia uma valorização suprema de habilidades físicas com um rigoroso treinamento militar. Desde a infância, todos eram submetidos a provas e rituais físicos extenuantes e perigosos. O treinamento dos garotos era voltado a formar guerreiros. As moças também deviam desenvolver suas habilidades físicas, pois só assim acreditava-se que seriam capazes de gerar filhos guerreiros. Diferentemente de muitas sociedades antigas, medievais e da Idade Moderna, contudo, mulheres tinham a possibilidade de ter terras e bens e não eram totalmente submissas a figuras masculinas como seus pais e maridos (diferentemente do que ocorria à época em outra cidade-estado grega, Atenas). 


Negra com uma criança branca nas costas, Bahia, 1870. (Acervo Instituto Moreira Salles).
Autor: desconhecido (Brasil); Título/descrição: Negra com Criança Branca Presa às Costas; Técnica: fotografia; Ano: 1870 depois de Cristo (d.C.); Local em que a obra está preservada: Instituto Moreira Sales. https://www.dmtemdebate.com.br/10-raras-fotografias-de-escravos-brasileiros-feitas-150-anos-atras/

Comentário: ao longo da história e até hoje em muitas sociedades, jovens meninas escravas e de classe social baixa tiveram/têm que trabalhar em atividades domésticas e em empregos que envolvem baixa remuneração, como o cuidado de crianças de pessoas mais ricas, trabalho no campo e em fábricas. É provável que essa jovem era uma escrava já que a abolição dos escravos no Brasil ocorreu somente anos após essa foto ter sido tirada. Os efeitos disso são verificados até hoje, 150 anos depois. Pertencer a famílias de descendentes de escravos dificulta enormemente a possibilidade de estudar e conseguir um emprego que permita atingir uma melhor qualidade de vida. O impacto de não poder receber uma educação na infância e adolescência, a desnutrição, a falta de acesso a serviços de saúde e, principalmente, maus tratos e estresse prolongado deixam também marcas psicológicas e fisiológicas que adolescentes carregam por toda sua vida.


Autor: José Ferraz de Almeida Júnior (Brasil – interior do Estado de São Paulo); Título/descrição: Leitura; Técnica: óleo sobre tela; Dimensões: 95 x 141 cm; Ano: 1892 d.C.; Local em que a obra está preservada: Pinacoteca do Estado de São Paulo. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/66/Almeida_J%C3%BAnior_-Leitura.jpg/1280px-Almeida_J%C3%BAnior-_Leitura.jpg

Comentário: essa obra retrata os costumes da vida do interior de São Paulo no caso de pessoas brancas de classe média e alta, bem como a modernização do Brasil na época (por exemplo, é possível ver produtos da revolução industrial como grades de ferro e toldo na casa vizinha). Diferentemente da jovem negra da obra anterior da mesma época, jovens brancas de famílias abonadas tinham certa educação, aprendiam a ler e não eram submetidas a trabalhos manuais e braçais.  Contudo, ainda tinham muitas restrições. Aqui, a moça lê na varanda, onde pode ver o que se passa na rua e ser vista, mas “protegida” ao não sair de casa sozinha.


Autor: George Bellows (Bélgica); Título/descrição: Os Alemães Chegam; Técnica: óleo sobre tela; Dimensões: 125,73 x 201,3 cm; Ano: 1918 d.C.; Local em que a obra está preservada: The National Gallery of Art. https://www.nga.gov/collection/art-object-page.133761.html

Comentários: a obra retrata a invasão da cidade de Dinant, Bélgica, pelo exército alemão em 1914. Além do terrível impacto para os civis durante essa guerra, deve-se lembrar do ônus sofrido pelos jovens, em especial os do sexo masculino, que serviram como soldados. A título de exemplo, ao menos 250 mil jovens com menos de 18 anos foram soldados britânicos durante a Primeira Guerra Mundial. Todos os exércitos cometeram atrocidades, não somente os alemães. Muitas garotas adolescentes serviram também como enfermeiras, disfarçaram-se de homens para poder lutar e tiveram um papel essencial durante guerras ao longo da História. No caso da Primeira Guerra, o papel das mulheres permitiu um enorme avanço em seus direitos nas sociedades ocidentais, como a luta pelo direito de votar, trabalhar etc.


Autor: José Carlos de Brito Cunha (Brasil); Título/descrição: Melindrosa; Técnica: mista; Ano: 1927 d.C.; Local em que a obra está preservada: Instituto Moreira Sales. https://ims.com.br/titular-colecao/j-carlos/ 

Comentário: essa capa da Revista Caretas (edição de 29/1/1927) ilustra uma melindrosa, um retrato da mulher moderna no pós-Primeira Guerra dos anos 1920. A imagem ilustra os novos papeis conquistados pelas mulheres europeias na época, como a liberdade de se vestir e de se comportar como queriam, o que, contudo, ainda era considerado escandaloso nesses tempos no Brasil.  Nesses anos, as mulheres mais modernas de classe média e alta da capital brasileira, o Rio de Janeiro, passaram também a valorizar a vida e os esportes ao livre, seguindo de perto a moda da Europa. Os avanços dos direitos femininos nessa época resultaram, em parte, do fato que, durante a Primeira Guerra, mulheres europeias assumiram os trabalhos que, até então, eram reservados aos homens. Ao fim dessa Guerra, lutaram para que isso não se revertesse.


Encerramos aqui a apresentação de imagens de jovens e seus papeis históricos após os anos 1920.

Grande parte das obras produzidas desde então têm direitos autorais e, portanto, não podem ser replicadas sem que haja pagamento por sua reprodução.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.