O que é autorregulação do comportamento

O que é autorregulação do comportamento

17 de março de 2018 Pesquisadores 0

Não há consenso na literatura sobre como nomear ou classificar a capacidade de regular o próprio comportamento, em especial porque este tipo de cognição é estudado em diferentes áreas que distintamente as definem, denominam e classificam (veja Barkley, 2001; Hofmann et al., 2012). Essa regulação abarca habilidades chamadas funções executivas, atenção, memória operacional e as envolvidas com a capacidade de sobrepujar e controlar comportamentos automáticos, pensamentos e impulsos (veja Barkley, 2001; Hofmann et al., 2012). Vários autores de renome sugerem hoje que todas estas habilidades podem ser coletivamente incluídas em uma categoria conceitual única, embora possam ser experimentalmente dissociáveis, que chamaremos aqui de autorregulação, seguindo Barkley (2001) e Hofmann et al. (2012): um conjunto de habilidades que têm capacidade limitada e que possibilitam o comportamento direcionado a determinados fins e que ocorrem dentro de uma perspectiva temporal curta (Hofmann et al., 2012).

Em 2016 o PubMed adicionou ao Medical Subject Headings (MeSH) o term autocontrole, Self-Control : “An individual’s ability to manage and monitor their emotions, behaviors, and desires in the face of external demands in order to function in society” (em Português: a habilidade dos indivíduos de manejar e monitorar suas emoções, comportamentos e desejos diante de demandas externas para ter competenciais sociais). Esse fato ilustra a relevância atual que a comunidade científica confere a tal tipo de cognição, cuja definição é próxima da de autorregulação aqui proposta. Preferimos, todavia, o termo autorregulação, pois “self-control”, na literatura internacional, ainda tem uma conotação direcionada à capacidade de inibir comportamentos (ver Hofmann et al., 2012), algo que consideramos ser apenas um aspecto da autorregulação comportamental. Optamos, assim, por usar o termo autorregulação, que é mais amplo e abarca a inibição comportamental e outros domínios autorregulatórios do comportamento. Ademais, o termo “self-regulation” é mais empregado no PubMed do que “self-control”.

Habilidades de autorregulação podem ainda ser classificadas em “quentes” e “frias” (Chan et al., 2008).

As habilidades quentes, também chamadas coletivamente de impulsividade, ou “controle de estados de humor” (control of affective states) (ver Bickel et al., 2012), são as que envolvem regulação emocional e do comportamento psicossocial. Estas envolvem regulação de emoções, crenças ou desejos, do comportamento social, tomada de decisão, interpretação pessoal, comportamentos durante atividades que contém recompensa ou punição, percepção de risco, busca de sensações e preferência por recompensas imediatas (ver Bicket et al., 2012); enfim, englobam a regulação emocional e do comportamento social (Chan et al., 2008; Diamond, 2013). Diferentemente, as habilidades “frias” correspondem às baseadas principalmente em raciocínio lógico, como flexibilidade cognitiva e inibição de comportamentos automáticos (Chan et al., 2008). Ambos os tipos, quentes e frios, são ainda subdivisíveis em outros domínios, como discutido adiante.

O Projeto Adole-sendo disponibiliza para a comunidade tarefas que mensuram autorregulação quente e fria em português. 

Referências bibliográficas

Barkley RA (2001) The executive functions and self-regulation: an evolutionary neuropsychological perspective. Neuropsychology Review, 11: 1-29.

Bickel WK, Jarmolowicz DP, Mueller ET, Gatchalian KM, McClure SM (2012) Are executive function and impulsivity antipodes? A conceptual reconstruction with special reference to addiction. Psychopharmacology, 221: 361-387.

Chan RCK, Shum D, Toulopoulou T, Chen EYH (2008) Assessment of executive functions: Review of instruments and identification of critical issues.  Archives of Clinical Neuropsychology 23: 201–216.

Diamond, A (2013) Executive Functions. Annual Review of Psychology, 64:135–68.

Hofmann W, Schmeichel BJ, Baddeley AD (2012) Executive functions and self-regulation. Trends in Cognitive Sciences, 16:174-180.

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